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Hazel: exemplo vivo de que  	uma só pessoa 
pode fazer a diferença 
Numa época em que ligar a televisão quase sempre exige  estar preparado para más notícias – denúncias de corrupção, violência, guerra -,  a idéia de um programa que mostre histórias de sucesso de pessoas, empresas e  governos comprometidos com o desenvolvimento sustentável,práticas de  responsabilidade social e respeito aos indivíduos e ao meio ambiente pode até  parecer delírio de telespectador insone. Tal proposta,no entanto, já é realidade  para cerca de 100 milhões de americanos que, desde abril, podem assistir ao  “Ethical Markets Media”, transmitido pela rede pública PBS (Public Broadcasting  System).  
Para os brasileiros, essas histórias poderão estar  disponíveis em breve, provavelmente no próximo semestre. Pelo menos se depender  da vontade de um trio de mulheres empreendedoras já muito bem-sucedidas em suas  áreas principais de atuação. Criadora do programa americano, a economista Hazel  Henderson, inglesa naturalizada norte-americana reconhecida mundialmente por  suas ações em defesa de práticas socialmente responsáveis, aliou-se à  publicitária Christina Carvalho Pinto,presidente da Full Jazz Comunicação, que,  por sua vez, terá ao seu lado, como principal executiva, a consultora  empresarial Rosa Alegria.  
Em comum, a disposição de encarar o desafio de mostrar que  boas ações podem andar lado a lado com retorno financeiro ou,mais ainda, ser um  fator de atração de capital. Estão, no entanto,bem calçadas: só nos Estados  Unidos as estimativas indicam que o montante aplicado nos fundos que têm em suas  carteiras papéis de empresas com práticas sociais ultrapassam os US$ 2,2  trilhões, segundo o Social Investment Forum Trends Report.  
   
Christina: apoio a uma idéia que já se mostrou  	viável nos EUA;  
 
O Brasil será o primeiro país a fechar um contrato de  licenciamento para a produção local do programa, o que é comemorado pela  economista que,desde a sua primeira visita ao País, ao Rio de Janeiro,para a  Eco-92, já voltou inúmeras vezes. Ela considera o Brasil “um líder mundial em  negócios de responsabilidade social”e cita como exemplo o fato de, das mais de 2  mil empresas que participam do Global Compact, um terço serem brasileiras – só  4% são dos Estados Unidos.  
O Global Compact é uma iniciativa proposta pelo  secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, à  comunidade empresarial internacional em torno de nove princípios universais nas  áreas de direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Há também negociações em  países como Austrália,Nova Zelândia, Japão,Canadá, Reino Unido e China.  
Enquanto no Brasil não se chega a um acordo final com uma  rede de TV – última etapa do processo -,Christina mantém o otimismo.”A mídia  está ansiosa por novos projetos e idéias, e a Hazel não traz só uma idéia, mas  programas que já provaram nos Estados Unidos que a fórmula dá certo.”  
Para uma produção independente, os custos dos programas  estão estimados entre R$ 200 mil e R$ 300 mil por mês. Se o acordo incluir a co-produção  de uma rede de TV aberta, isso significará uma redução considerável dos  custos.”As propostas estão sendo cuidadosamente analisadas”, diz.  
Já para a linha editorial não há negociações, afirma  Hazel.”Os anunciantes terão de ser exemplos comprovados de empresas socialmente  responsáveis”, diz, acrescentando que o cuidado é necessário porque chegou-se a  um “estágio em que isso é ‘fashion’ e as empresas estão tentando se posicionar”.  Christina completa:”É um programa sobre comportamento ético, iniciativas éticas,  sobre ética, o poder das visões éticas para transformar o planeta. Nesse  contexto, temos de ser muito cuidadosos com as parcerias”.  
O programa de televisão -parte de uma plataforma de mídia  eletrônica que envolve rádio, internet e material impresso – é considerado por  Hazel o ponto alto de um trabalho árduo desenvolvido ao longo de mais de 30  anos,numa área que só no final do século passado começou a ser levada a sério  por governantes e economistas e, mais recentemente, pelo mercado financeiro.”  Comecei a sonhar em construir essa companhia de mídia há cinco anos. Foi muito  difícil no começo, mas fui incrivelmente ajudada pela onda de crimes  corporativos como os da Enron, Arthur Andersen,WorldCom, Tycon, Parmalat. De  repente, toda a imprensa financeira é obrigada a cobrir esses escândalos e o  show das boas notícias fica conosco”, diz ela.  
   
Annan:  	proposta à iniciativa privada para aderir à lista de princípios universais 
Nos Estados Unidos, a série já vai para a segunda  temporada. De acordo com Hazel, nos primeiros 13 programas foi investido US$ 1  milhão. Na próxima etapa, esse valor deve somar US$ 1,5 milhão.”Não temos  dívidas e vamos agora ao segundo round de investimentos, todos privados”, diz.  
O programa pretende falar igualmente ao investidor  financeiro, autoridades públicas, estudantes,donas de casa, trabalhadores em  geral.Ninguém deve ser excluído,daí a preferência por um acordo com uma  televisão aberta.A idéia é mostrar não só empresas bem- sucedidas, governos  socialmente responsáveis, mas também pessoas.Histórias como a de uma mãe que, na  década de 60, recém- chegada a Nova York e preocupada com os efeitos da poluição  da megalópole sobre a saúde de sua filha pequena,começou a mandar cartas para as  autoridades locais, com cópia para redes de televisão. Até que, de tanto  insistir, conseguiu que uma dessas redes aderisse à causa,mobilizando a  população e pressionando o poder público.  
Quarenta anos depois, essa mesma mãe ostenta o título de  doutora honoris causa em Economia pelas universidades de Tóquio e de São  Francisco (EUA), tem oito livros publicados,quatro em português, entre eles “Além  da Globalização”,”Transcendendo a Economia” e “Construindo um Mundo em que Todos  Ganhem”, e é co-criadora do Índice de Qualidade de Vida Calvert- Henderson,numa  sociedade com o grupo Calvert,empresa líder na área de investimentos socialmente  responsáveis, com mais US$ 9 bilhões em ativos. Como consultora, dá conselhos a  autoridades do mundo todo e realiza palestras para as mais diversas audiências.”  Naquela época foi quando percebi que uma só pessoa pode fazer a diferença”, diz  a personagem dessa história, Hazel Henderson.   |